Cadeados e não só!

Parece que os alunos da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa fecharam-na a cadeado até que sejam atendidas as pretensões inscritas no caderno reivindicativo.

Sinceramente não sei o que eles estão a reinvindicar, pois nas televisões o que vi foi um estudante a protestar contra a impossibilidade dos alunos repetentes assistirem às aulas práticas (assunto em que não posso dar a minha opinião) e ainda contra a redução do calendário de exames de 1 mês para quinze dias, fazendo com que, entre alguns exames, haja apenas 48 horas de intervalo.

Não conheço as dificuldades do curso de Direito, nem as práticas avaliativas que lá se fazem, mas, assim para quem está no exterior, 48 horas de intervalo entre exames não parece nada mal. Já não me lembro quantos dias de intervalos tinha para as minhas frequências na FLUP, mas, lembro-me, perfeitamente que, cheguei a fazer duas frequências no mesmo dia e sem possibilidade de reclamar, pois como pertenciam a anos diferentes não tinham que respeitar intervalos mínimos entre frequências.

Mesmo nessa altura havia colegas que se queixavam que as frequências estavam próximas em demasia. É claro que para quem não estuda durante o ano e tenta empinar tudo na época de frequências, mesmo em Letras (há muita gente que pensa que é mais fácil), a vida, nesta época, fica difícil. Em Direito uma atitude também não deve ajudar. E como eu tenho filhos de amigos meus a andarem em Direito (mais concretamente na Católica do Porto) que tiveram, neste 1.º ano, uma atitude desta, não me admirou nada o olhar esgazeado com que andaram em Janeiro.

É claro que há muita coisa errada na avaliação universitária, inclusive com épocas de avaliação demasiado longas e repetidas (de um modo geral). Mas apresentar o caso de 48 horas de intervalo entre exames como um dos casos principais, parece exagero. Na vida profissional vão ter que fazer mais em muito menos tempo.

Na minha actividade, nas faculdades quando se fala de traduzir, fala-se em projecto de tradução, reflecte-se sobre o processo de tradução, etc., etc., etc., isto é, parece um trabalho reflectido em que há tempo para fazer escolhas (linguísticas e não-linguísticas), que se pode desenvolver com calma, com clientes que compreendem bem o que é o trabalho de tradução.

Nada mais errado. Muitos clientes pensam que traduzir é pouco mais do que uma transcodificação, isto é, o que é dito numa língua tem equivalentes totais noutra língua. Não se apercebem dos aspectos extra-linguísticos como, por exemplo, o facto de se fazer uma tradução jurídica de português para francês chocar com códigos jurídicos que não são idênticos., com procedimentos que não têm paralelo, etc. Por outro lado, trabalha-se frequentemente a todo o vapor, com prazos de entrega absolutamente louco. Apesar disso, o cliente exige a mesma qualidade, não lhes importando se o tradutor teve muito ou pouco tempo para fazer a tradução.

Tudo isto não se aprende nos bancos da faculdade. Tem que se aprender a lidar com a pressão, mas os nossos alunos, mesmo na faculdade, nem sempre estão habilitados a lidar com ela.

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