Assassinos da verdade (act.)

Hoje, o Jornal de Notícias tem a seguinte notícia na secção Mundo (destaques meus):

Israelitas assassinam menina de dez anos
Faixa de Gaza - Soldados disparam sobre fila de crianças a entrar para a escola da ONU

Uma menina palestiniana de dez anos morreu assassinada com um tiro na cabeça quando se encontrava numa escola das Nações Unidas no acampamento de refugiados de Rafá, sul da Faixa de Gaza. Segundo agências noticiosas, o disparo fatal foi feito por soldados israelitas a partir de um carro de combate. Os palestinianos afirmaram ainda que no tiroteio unilateral outra menina, de sete anos, ficou ferida numa mão. Fontes palestinianas disseram que a menina assassinada aguardava numa fila, juntamente com outras crianças, para entrar no colégio quando foi atingida na cabeça por um disparo efectuado a partir do posto de controlo militar de Termit, a cerca de 900 metros. "De repente, deu um grito e caiu, sangrando. As meninas começaram a correr em todas as direcções", afirmou uma testemunha. Paul McCann, porta-voz da ONU e administrador do colégio, adiantou "Esta é a quinta vez que as crianças do nosso colégio foram atingidas por disparos".

Comecemos por "assassinam". O verbo assassinar tem, por exemplo, no Houaiss, como primeira definição e aquela que é mais comum: "destruir a vida de (um ser humano) por acto voluntário (acção ou omissão). Ficamos assim a saber, segundo o JN, os soldados israelitas são uns sádicos que, premeditadamente, atiram sobre crianças que estão a entrar na escola. Obviamente que o uso de certos verbos não é inocente e, para mais, não me lembro ser normal a imprensa em geral utilizar o verbo "assassinar" para indicar as mortes de israelitas em atentados suicidas. Normalmente, para esta gente, os israelitas "morrem", os palestinianos são "assassinados".

Segundo ponto, a proveniência da informação. As fontes da informação são as "agências noticiosas" e "fontes palestinianas". Toda a gente sabe que as agências utilizam informadores palestinianos e que, para além destes, fontes habituais de informação das agências são os trabalhadores da ONU, muitas vezes, também eles palestinianos. Por isso, esta informação é unilateral. Ouvir o outro lado? Nah!!! Nem as agências internacionais, nem os jornais portugueses costumam ouvir a versão do lado israelita. A deontologia profissional, no conflito israelo-árabe, desapareceu em combate.

No entanto, não era preciso muita investigação para encontrar a versão israelita. No Haaretz, poderiam ter encontrado esta notícia: IDF says schoolgirl was probably killed by Palestinian gunfire. E já estava online desde ontem à noite. Vejam só este parágrafo desta notícia:

Palestinian and United Nations officials said earlier Monday that Deeb was killed by IDF gunfire as she was walking into a UN school in the southern Gaza Strip. But UN officials later said that they could not definitively identify the source of the gunfire, although all signs pointed to the Israelis.

Porque razão devemos nós acreditar, sem pensar, numa única versão? Porque demonstra a nossa imprensa uma parcialidade tão grande em relação a Israel?

Só sei uma coisa: a verdade é a primeira baixa neste conflito e com uma informação - que a nível ocidental é altamente parcial, preterindo sempre Israel - deste género, será difícil fazer a paz.

Post scriptum. A AFP (que penso ter sido originalmente a agência em que se baseou o JN), tem hoje a versão do Tsahal. Penso, no entanto, que, amanhã, nós não veremos esta versão no JN. Posso estar enganado, mas não me parece.

Comentários

Anónimo disse…
Não só , ontem na RTP2 o locutor da peça disse mias ou menos isto "o posto de controlo Israelita está SÓ a 900m da escola". Faço especial atenção para o SÓ do jornalista .Se o jornalista soubesse um pouco de armas saberia que uma M-16 ou Galil não conseguem acertar em alguém propositadamente a mais de 400m. Para isso eras preciso um bom tiro de um sniper.

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