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Novas religiões, novas inquisições

O João Miranda escreveu hoje, como de costume de modo incisivo, sobre a religião ambientalista , elecando algumas das características desta nova religião. O ponto número 4 reza assim: Os ambientalistas, tal como os os fanáticos religiosos, reagem irracionalmente às heresias. E como reagem irracionalmente a quaisquer heresias, querem-nas castigar. Assim, um tal David Roberts não hesita em propor uma espécie de tribunal de Nuremberga para todos aqueles que que pertençam à "denial industry", só que aqui os negacionistas não são aqueles que negam o holocausto, mas todos aqueles que, por um ou outro motivo, são cépticos quanto à esta questão do "aquecimento global", sobretudo, no que diz respeito às suas origens antropogénicas. Toda esta linguagem de equiparar o aquecimento global ao Holocausto e a tentativa de associar o negacionismo do Holocausto ao cepticismo sobre o aquecimento global, chamando negacionistas a estes últimos, não passa de uma tentativa torpe, totali

Jornalismo copy+paste (ou copiar + colar)

Ontem dei conta aqui de um texto de Jorge Silva Melo em que ele se demonstrando insatisfeito com a qualidade das traduções no teatro, fala também de uma crítica "estilo copy + paste". Que os jornais hoje em dia dependem muito das agências noticiosas e que, por vezes, se limitam, a traduzir as notícias já toda a gente sabe. Por vezes, também, fazem-no mal e até se consegue ver de que língua é que a notícia foi traduzida. Outras vezes, mesmo em português, nem sequer conseguem aportuguesar a notícia. Foi o que se passou hoje com uma notícia no JN sobre o Rocco Siffredi (sabem quem é, não?). O jornalista pegou numa notícia da Agência Efe escrita em português do Brasil (que pode ser lida aqui ) e inseriu-a no jornal, tentando, apenas, aportuguesá-la. Mas, seja lá por que motivos foi, a coisa não saiu lá muito bem. Desde frases como «passa pelos "primeiros prazeres solitários no banheiro"» (sabem o que quer dizer banheiro, neste contexto, em português de Portugal?), a f

"Encore bien que je te trouve"

Estava eu a ler a coluna do Jorge Silva Melo, no Mil Folhas de ontem, com o título acima, em que ele vai discorrendo sobre a tradução que por aí se pratica no teatro, quando a certa altura, ele escreve: "Na tradução, diz-se, há-de ouvir-se a língua de origem". Ia eu já rever todos os meus conceitos sobre tradução (a presença ou não da língua de origem na tradução é coisa responsável pelo abate de muitas árvores), o estatuto do texto original e essas coisas mais, mas com a leitura do texto até ao fim, pensei, para comigo, (não sabendo se essa era ou não a intenção original do autor, mas isso também não me interessa, pois como diz Pessoa, "E os que lêem o que escreve, / Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, / Mas só a que eles não têm."), que afinal, nos exemplos dados por JSM, ironicamente, a língua original não se ouvia apenas, estava era aos gritos. Escreve JSM: Na tradução, diz-se, há-de ouvir-se a língua de origem. E é inegavelmente bonita a maneira

República

Está quase no fim este quinto dia de Outubro. para mim, republicano assumido, a comemoração do 5 de Outubro deixa-me relativamente indiferente pois, para mim, a 1.ª República que se comemora pode ser tudo menos um exemplo a seguir, pois nem sequer democrática era. Uma das minhas objecções quanto à monarquia deve-se ao facto desta, que na maioria dos casos são sucessórias, violar aquilo a que os antigos gregos chamavam "isocracia", isto é, a "igualdade de poder ou de acesso aos cargos". Em Atenas a maioria dos cargos públicos eram ocupados por pessoas cuja a escolha tinha sido pelo processo de "tiragen à sorte" e isto era uma característica tão importante que Heródoto faz menção dela no passo 3.80-83 em que três nobre persas discutem a melhor forma de governo. Mesmo que esta tiragem à sorte não fosse aplicada, por exemplo, ao cargo de estratego, devido à sua especificidade, a escolha deste fazia-se por eleição. Para mim é absolutamente impensável que alguém

Dégueulasse...

... é o mínimo que se pode dizer deste artigo no The Independent. Segundo o articulista o Ocidente está ser silenciado pelo Islão mas, no fim de contas, isso até não é tão mal como isso! But in many places there is a growing realisation that freedom of expression is not absolute but needs to be governed by a sense of social responsibility . To elevate one right above all others is the hallmark of the single-issue fanatic. Sometimes it is wise to choose not to exercise a right. Sim, o respeitinho é muito lindo, mas só em relação a alguns (afinal ninguém pediu sensibilidade quando um "artista" pôs um crucifixo dentro de um frasco de urina)... Pode dizer-se que nenhum direito é absoluto, mas o que quer ele dizer que esse direito tem que ser "governed by a sense of social responsability"? Para mim, neste caso, não é mais do que a censura comunitária, isto é, impedir o indivíduo de exercer um direito em nome de um "bem público" abstracto e totalitário. Mais u

Ainda as praxes...

Sobre a praxe já há algum tempo escrevi a minha opinião . É claro que não a modifiquei em nada. A praxe, da forma como é habitualmente praticada, é algo de completamente estúpido, sem sentido e geralmente degradante. Mas mesmo que a sua prática fosse diferente, isto é, mais civilizada, continuo a pensar que, ainda assim, é completamente injustificada. Há muitas maneiras de integrar as pessoas em novas realidades e nenhuma delas, para mim, passa por actividades praxistas. Há sempre uma mentalidade de pequeno ditadorzeco, de totalitarismo de trazer por casa, nas praxes. Por isso, fico contente por um caso de praxe chegar a tribunal . Não que eu queira que os praxistas vão todos para a prisão, quero é que as pessoas compreendam que há limites e há coisas que, numa sociedade dita civilizada, não se fazem e nem lhes deveria sequer passar pela cabeça fazê-las. Espero é que os "caloiros" tenham cada vez mais coragem de se recusarem a ser conduzidos como carneiros e recusem estas prá

Primeiras fissuras...

Silvio Berlusconi pode ter muitos defeitos, mas foi o primeiro primeiro-ministro italiano do pós-guerra a cumprir o mandato. Apesar disso, e muito por culpa própria, os italianos não o reelegeram. É certo que, e na minha opinião, não terão ganho muito com isso, Romano Prodi está longe de ser um político que entusiasme os seus partidários e a coligação, a União , que apoia o seu governo é uma espécie de albergue espanhol onde cabe um pouco de tudo, desde democratas-cristãos a comunistas. Por isso, mais tarde ou mais cedo teriam que começar as desavenças. No Senado a coligação governamental perdeu uma votação porque um dos partidos que a compõe, Itália dos Valores, liderada pelo juiz Antonio di Pietro , célebre pela operação Mãos Limpas e, mais espantoso ainda, ministro das infra-estruturas, absteve-se na votação de um artigo de um decreto de lei (abstenção conta como voto contra no senado italiano). Quem não gostou nada da piada foi Clemente Mastella , ministro da justiça, líder da UDE

São Jerónimo

Há já bastante tempo que não publicava nada no Humanae Litterae , mas ontem, 30 de Setembro, por ser o dia de São jerónimo, sendo ele considerado o padroeiro dos tradutores, decidi dedicar-lhe um texto , que não saiu assim tão pequeno como isso.