Primeiras fissuras...

Silvio Berlusconi pode ter muitos defeitos, mas foi o primeiro primeiro-ministro italiano do pós-guerra a cumprir o mandato. Apesar disso, e muito por culpa própria, os italianos não o reelegeram. É certo que, e na minha opinião, não terão ganho muito com isso, Romano Prodi está longe de ser um político que entusiasme os seus partidários e a coligação, a União, que apoia o seu governo é uma espécie de albergue espanhol onde cabe um pouco de tudo, desde democratas-cristãos a comunistas.

Por isso, mais tarde ou mais cedo teriam que começar as desavenças. No Senado a coligação governamental perdeu uma votação porque um dos partidos que a compõe, Itália dos Valores, liderada pelo juiz Antonio di Pietro, célebre pela operação Mãos Limpas e, mais espantoso ainda, ministro das infra-estruturas, absteve-se na votação de um artigo de um decreto de lei (abstenção conta como voto contra no senado italiano).

Quem não gostou nada da piada foi Clemente Mastella, ministro da justiça, líder da UDEUR (centristas/democratas-cristãos), que considerou que a acção de di Pietro põe a maioria em perigo. Mastella chega mesmo a citar Cícero, na I Catilinária, "usque tandem Catilina abutere patientia nostra" (até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência). Catilina foi considerado pelo senado romano como traidor de Roma por conspiração e morto em combate. Di Pietro, verdadeiro enfant terrible do governo Prodi, tem agora sobre si a desconfiança de parte dos seus companheiros de governo e está em riscos de ser também considerado um traidor...

Parece que, com Prodi, a Itália se arrisca a regressar à tradição do pós-guerra de governos com duração média um pouco superior a um ano. Não é verdadeiramente um bom augúrio.

Quo Vadis Italia?

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