Dieudonné e a liberdade de expressão

A Ana interroga-se neste artigo: "Deve dar-se a palavra a Dieudonné?".

Para aqueles que não conhecem bem a questão de que a Ana fala, posso-lhes dizer que ela ganhou visibilidade com um sketch de muito gosto protagonizado por Dieudonné num programa de Marc-Olivier Fogiel chamado One ne peut pas plaire a tout le monde, na France 3, a 1 de Dezembro de 2003 (salvo erro), onde disse, por exemplo, entre outras coisas, o seguinte: J'encourage les jeunes gens qui nous regardent aujourd'hui dans les cités, pour leur dire: convertissez-vous comme moi, essayez de vous ressaisir, rejoignez l'axe du bien, l'axe américano-sioniste. Isto vestido de rabino e onde fez também uma saudação hitleriana de braço e gritando: Israel.

Depois desse programa, Dieudonné entrou em plena derrapagem racional que o levou a proferir algumas declarações perfeitamente idiotas em Argel em Fevereiro deste ano. Um resumo desta caso pode ser encontrado aqui.

Pergunta a Ana se se deve defender a liberdade de expressão. Eu acho que sim, mas não a tudo o custo, pois não há, em democracia, direitos absolutos. Aliás seria um paradoxo num sistema que nasceu para limitar o poder absoluto, permitir a existência de direitos absolutos. Não advogo de modo algum a censura, mas havendo infracções cometidas no uso deste direito é lógico que essas infracção devem ficar sob a alçada da lei.

Mas, mais eficaz, neste caso, será a denúncia permanente do anti-semitismo deste senhor. A amálgama que ele faz entre as lutas do negros e as declaraçõe anti-semitas que profere são do mais ignóbil. Se ele fosse censurado não se haveria ele de converter num mártir?

Talvez seja preferível, neste caso, assentar baterias sobre o carácter inaceitável das suas declarações (embora eu saiba que em França as opiniões anti-semitas estão a crescer de popularidade e por isso o combate pode ser difícil) do que sobre a discussão da liberdade de expressão. E, no caso de ele ter infringido alguma lei francesa sobre o abuso de liberdade de expressão, processá-lo nos termos da lei.

Mas os tempos estão duros para os judeus franceses...

Comentários

Flávio Santos disse…
Não tenho simpatia especial pelo homem, acho que até é todo esquerdista. Mas o que é certo é que logo a seguir ao sketch houve uma onda de protestos e os espectáculos que estavam agendados foram cancelados.
Além da questão da presença de milhões de árabes em França, hostis aos judeus, acho que a propaganda que é incessantemente feito contra o anti-semitismo, além de raiar a histeria, tem eventualmente o efeito contrário do pretendido, gerando ainda mais hostilidade, por saturação.

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