Praxes...

Chega o novo ano escolar e lá venho eu falar das praxes universitárias (é recorrente, ano após ano). E porquê? Ia eu a descer devagarinho a Av. Marechal Gomes da Costa quando do outro lado vejo um grupo (de ambos os sexos) vestidos de negro (com aquilo que se convencionou chamar traje académico) a escoltar um grupo maior de pessoas vestidas à civil (sem dúvida caloirose também de ambos os sexos). Penso que deveriam ser da Católica, pois fica logo ali abaixo (eles levavam aquelas fitinhas com cores mas, confesso, nunca soube muito bem distinguir as cores; as únicas que conheço são as da FLUP porque era a minha faculdade, não que alguma vez tenha envergado o traje académico, pois para farda bastaram os 16 meses de tropa).

Eu pensei, quando vi a cena, que havia algo de errado. Estamos no início de Setembro, as aulas ainda não começaram, que raio andavam aqueles tipos a fazer. Será que os caloiros actuais têm um prazer masoquista e já andam a rondar a faculdade semanas antes das aulas começarem? Será que os chamados "doutores" (de quê não sei, pois muitos deles já têm mais matrículas do que o número de anos dos cursos que frequentam, o que não abona muito em favor deles) andam também a rondar as faculdades nesta altura do ano à procura de caloiros só para se divertirem sadicamente um pouco?

Já no ano passado, quando em Setembro fui ao Centro de Linguística da FLUP, situado ainda em terrenos da antiga FLUP, onde hoje está a Faculdade de Ciências(?) da Educação, vi o mesmo tipo de cenas. Já na altura me interroguei: será que não têm mais nada para fazer? É que a praxe é uma completa perda de tempo e ninguém me convence de que ela é ncessária para a integração na vida universitária. Pelo menos, eu, como muitos outros, não precisei dela para nada.

Nunca compreendi, e provavelmente nunca compreenderei, o que pode levar alguém a gostar de praxar e muito menos o que leva alguém a gostar de ser praxad0, muito menos andarem já em Setembro nestas cenas.

Enfim, devo ser eu que tenho pouca sensibilidade.

Comentários

Dinamene disse…
Absolutamente de acordo.
Anónimo disse…
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Unknown disse…
Se há tradição que nunca compreendi foi essa. Mas mais estranho do que a tradição é a aceitação que há quanto a ela - tanto pelos que a praticam como pelos que a sofrem.

Fui praticamente insultado por não querer participar em praxes e fui chamado de "esquisito" por não querer ser praxado. Isto pela minha própria família que me queria ver...humilhado? É daquelas coisas que me escapa à compreensão.
Anónimo disse…
A PRAXE É APANÁGIO DAS BESTAS QUE AS PRATICAM.

SÓ UMA MENTE DOENTIA PODE ACEITAR ESTAS PRÁTICAS - DITAS INOFENSIVAS.

A REINTEGRAÇÃO ESTUDANTIL, PROFISSONAL OU DE OUTRO QUALQUER GÉNERO PEDE E DEVE SER FEITA NATURALMENTE E NÃO COM ACTOS QUE DESPREZAM OS DIREITOS DE CADA UM.

É TEMPO DE A SOCIEDADE SE OPÔR A ESTAS ACTIVIDADES COERCIVAS E DE INTIMIDAÇÃO. É QUE NA NOSSA MEMÓRIA ESTÃO ACTOS DE SERES ABJECTOS QUE GOZARAM E GOZAM COM O ESCÁRNIO E HUMILHAÇÃO DOS SEMELHANTES, CUJOS TERRÍVEIS NOMES DÃO POR HITLER E BIN LADEN, PARA NÃO DIZER MAIS.

SEI QUE MESMO ASSIM HAVERÁ QUEM CONTINUE A GOSTAR DE SER GOZADO. ESSES, NÃO SE ESQUEÇAM... PASSEM NO ZOO MAIS PRÓXIMO E INSCREVAM-SE COMO BESTAS, POIS NÃO FALTARÁ QUEM OS MONTE.
Anónimo disse…
ainda gostava de perceber porque a menina do comentario diss k kem n quer ser praxado declara anti-praxe!!!!porquê??!!
A inscriçao numa univ n inclui praxes!! ninguem é obrigado a ser praxado mas tb ninguem é obrigado a declarar anti-praxe!!n é praxado e pronto!
Isso é o k os ditos engenheiros e doutores (k cm alguem ja mencionou,deviam era ter vergonha de tanta matricula k têm)tentam incutir!!
Por isso se és caloiro e n keres ser praxado...n és!!E n necessitas assinar porra nenhuma!!
Anónimo disse…
Domingo, Outubro 14, 2007
É tempo de praxe


Todos os anos por esta época as universidades portuguesas enchem-se de estudantes que fazem coisas ridículas sob orientação dos seus colegas mais velhos. Esta semana cruzei-me em Aveiro com um longa bicha de caloiros que vinham da ria acartando nas mãos, debaixo do sol, sacos plásticos cheios de lodo. Presumo que a intenção fosse levar aquela porcaria para a Universidade. Em Coimbra, ao pé da escadaria monumental, passei por um estudante com o traje académico que era escoltado ao caminhar por quatro colegas recém-chegados à capital da cultura universitária que o rodeavam de braços estendidos no ar agarrando a capa dele sobre a sua insigne cabeça para que esta não apanhasse sol de mais. Suponho que teria medo que o pequeno cérebro derretesse.
Chamam a isto a praxe, e a justificação dada para que os colegas mais novos se tenham de lhe submeter é a necessidade de “integração”. Só há integração para quem não fizer ondas e aceitar com humildade os tratos de polé. Os caloiros são mandados fazer figura de urso para se poderem integrar, com a promessa de que um dia também poderão ser superiores prepotentes e terão enfim o direito de mandar uma nova geração de inferiores (caloiros/lamas/lodos) fazer por sua vez figuras tristes. É a apologia da humilhação como estratégia pedagógica.
Dizem os praxistas que é bom como aprendizagem para a vida, como preparação para o mundo. Aprende-se assim a respeitar a hierarquia, preparam-se os jovens para um modelo de relações profissionais baseado não no respeito mútuo, mas nas pequeninas e mesquinhas maneiras quotidianas de lembrar quem é o superior. Um modelo onde pouco conta o mérito, onde as ideias novas ou diferentes são malvistas, no qual importante é saber lamber as botas de algum cacique. Aprende-se a obedecer sem questionar. Para que se perpetue uma cultura que promove o medo de ser o destravado da língua que comete a heresia de dizer que o rei vai nu. E que é saneado pela ousadia. A praxe é um reflexo do triste país que temos, portugalzinho no seu pior.

Publicada por João Paulo Esperança em 11:52 PM 0
in Hanoin Oin-Oin

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