95 anos

Faz hoje 95 anos da Implantação da República. Desde já digo que sou republicano, pois que a república cumpre melhor aquele velho preceito grego de isocracia - por outras palavras, a igualdade no acesso aos cargos (que, valha a verdade nunca será completamente igualitária) -, mas tenho um olhar muito crítico sobre a nossa I República.

E porquê? Porque a I República não representou um avanço, relativamente à monarquia, nas liberdades gozadas pelos portugueses, nem foi um regime mais democrático do que aquele que tinha existido nas últimas décadas de monarquia.

Por exemplo, a I República tratou de se proteger do voto do povo, alterando a lei eleitoral de modo a que menos eleitores votassem (excluindo muitos dos eleitores que julgavam influenciados pelos padres), o que fazia com menos de 500 000 eleitores votassem, quando havia mais de 5 milhões de pessoas no país.

Por outro lado, grande parte dos 16 anos da I República foram uma, na prática, uma ditadura do Partido Democrático que fez e desfez gabinetes ao sabor da conjuntura. Foi uma república que, nos seus primeiros anos, tentou, mais do que separar a Igreja do Estado, destruir essa mesma Igreja, hostilizando deste modo grande parte da população portuguesa e, de algo modo, a minar os próprios alicerces de sustentação da república (por alguma coisa o 28 de Maio de 1926 teve tão pouca resistência).

A I República está longe de ser o poço de virtudes que alguns nos querem impingir (nomeadamente algumas figuras do PS, partido que se julga herdeiro deste republicanismo). Se teve aspectos positivos (esforço na educação, por exemplo), teve outros muito negativos (a entrada na I Guerra tem explicação? Os ingleses nem nos queriam lá), como exemplo, a agitação social que foi sempre intensa durante os anos da república (e a maior culpa disso nem coube aos monárquicos).

Por isso, embora republicano, não sei se hoje tenho muita coisa a comemorar. Gostava que a república tivesse sido implantada de um modo diferente e, sobretudo, que tivesse sido uma outra república, não aquela república jacobina e sectária que acabou por ser a I República.

Comentários

Anónimo disse…
Bom, sobre a 1ª Republica estamos conversados. E o Estado Novo e esta 3ª Republica, afinal o que nos trouxeram?
Que importancia tem que um Simbolo (como é o Rei nas Monarquias modernas) tenha um carácter hereditário, para alem da vantagem de ser funcionalmente apartidário.
Já agora, e respeitando a sua opinião, não vejo que Espanha, Inglaterra, Holanda, Bélgica, Noruega, Suédia, etc... Sejam países menos democráticos e onde se vive pior do que nos outros em que através de guilhotinas, regicídios, etc... Se implantou a Republica. Cumprimentos.
Rui Oliveira disse…
Caro Velho da Montanha,

Eu sou por princípio republicano, mas nunca faria uma revolução para derrubar uma monarquia caso essa monarquia fosse democrática e contitucional. Viveria perfeitamente confortável, sem abdicar dos meus princípios republicanos, numa monarquia como a espanhola ou as nórdicas.

Aliás, eu não me sinto herdeiro da I República...

Mais importante do que a forma republicana ou monáquica é, para mim, a democracia que temos (ou não temos). E, não me custa reconhecer, a III República ainda tem muito para andar. Mas, no caso de Portugal, não penso que o regresso à monarquia resolvesse alguma coisa.
Anónimo disse…
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