Leituras

Sou, habitualmente, um leitor incansável pelo que ando sempre com um livro comigo, vá para onde vá. A minha mulher já estranha quando saio de casa e não levo o famigerado livro. Mas, e se calhar nem sequer é estranho, a literatura não ocupa o maior espaço nas minhas leituras. Usualmente o meu interesse reparte-se entre história, linguística, teoria da tradução, literatura (com, actualmente, maior preponderância da poesia sobre a prosa e de autores mais antigos sobre os mais modernos) e política (mais ou menos por esta ordem de importância).

Também é hábito ler vários livros ao mesmo tempo, alternando os livros, mas tentanto não deixar demasiados dias entre leituras para poder continuar a leitura sem perder o fio à meada. No entanto, nos últimos dias concentrei-me praticamente num livro cuja leitura me absorveu totalmente: a biografia de D. Dinis por José Augusto Pizarro, editada pelo Círculo de Leitores no âmbito da sua colecção Reis de Portugal. Esta série faz a biografia de todos os reis de Portugal, tendo já saído grande parte da colecção. Todavia, apesar de já ter todos aqueles que saíram até agora, ainda não tinha tido oportunidade de ler qualquer um deles. Comecei por D. Dinis.

E penso que comecei bem. Direi apenas que a obra se lê como um romance, numa linguagem bastante clara, com imensos pormenores e informações actualizadas, tendo como objecto um longo reinado de mais de 45 anos de um dos mais competentes e cultos reis de Portugal.

Tal como o historiador autor desta biografia, também eu tenho uma grande admiração por D. Dinis, mas a minha admiração por este rei era sobretudo pela sua produção poética, com poemas extraordinários, para além de ter sido o trovador medieval da poesia galego-portuguesa que maior produção poética fez chegar até nós. D. Dinis é, sem qualquer favor, um dos grandes poetas do nosso país.

Também tinha consciência de que o reinado de D. Dinis foi de algum modo fundamental para a consolidação do reino de Portugal no contexto ibérico, mas este livro vem, de um modo sistemático, explicitar tudo isso ao mesmo tempo que mostra a dimensão que este rei teve no seu tempo.

Na conclusão, o autor faz uma observação que, pensando bem, tem toda a razão: o da injustiça que é para D. Dinis ser conhecido pelo cognome de "Lavrador". José Augusto Pizarro, depois de estar de acordo com o cognome de rei Poeta pela sua produção poética, diz o seguinte (pp. 261-262):
Mas se concordo inteiramente com aquele cognome, não posso deixar de manifestar o meu mais veemente desacordo - quase diria indignação - pelo de rei Lavrador. Aliás, creio que nenhum outro monarca português foi tão injustiçado por um cognome como D. Dinis, amarrado, é o termo, durante gerações ao mafaldado pinhal de Leiria. E nisto, para o imaginário de uma boa parte dos cidadãos, se resumia a acção deste rei, para além de ter sido o marido da Rainha Santa, e a causa próxima do Milagre das Rosas.

(...) Como biógrafo, porém, custa-me ver reduzida àqueles termos uma personalidade tão fascinante e um reinado tão rico e fecundo. Creio que bem mais mereceram a figura e o governo de D. Dinis.
Não poderia estar mais de acordo com esta afirmação.

Não sei como serão os restantes livros da colecção, espero sabê-lo com o decorrer do tempo, mas, este, desde já, posso recomendá-lo.

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