Obra de arte
A 8 de Janeiro, falei aqui do caso da Figueira da Foz e do lavatório cujos cacos foram para ao lixo atirados por uma funcionária de limpeza.
Hoje o Jornal de Notícias, na sua secção Cultura, volta a falar no assunto. Em caixa, Paulo Cunha e Silva, director do Instituto das Artes, diz o seguinte:
A obra de arte deixou de ter legitimidade por si - é o artista que lhe confere esse estatuto. Além de vir complementar o anedotário da arte contemporânea, a sucessão deste tipo de equívocos acabou por introduzir uma questão muito interessante, a do conflito entre as obras de arte e o próprio Mundo. O senso comum orquestra a perplexidade e a resistência para rejeitar determinadas criações. A ideia de que não passam de lixo - ou que poderiam ter sido concebidas por qualquer um - acaba por dissolver a aura de objecto artístico e restituí-lo para o local onde ele deve estar. A realidade. O lixo. Em última instância, esse cidadão delimita as fronteiras - que, entretanto, se terão diluído - do conceito de museu enquanto caixote do luxo e não caixote do lixo. O problema é que essas obras de arte não foram concebidas por esse anónimo, que não tem estatuto de legitimação. Esse esforço só pode ser exercido pelo artista, designação conferida, nomeadamente, pelo crítico de arte e pela própria sociedade. No final, a questão deixou de ser "o que é uma obra de arte?", mas, antes, "o que é um artista?".
Tal como na literatura, não acredito numa definição essencialística da obra de arte em geral, mas também não acredito no extremo oposto.
Vítor Manuel Aguiar e Silva (in Teoria da Literatura, Almedina, 8.ª ed., p. 33), depois de considerar que:
(...) a obra literária só adquire efectiva existência como obra literária, como objecto estético, quando é lida e interpretada por um leitor, em conformidade com determinados conhecimentos, determinadas convenções e práticas institucionais.
Diz o seguinte na p. 34:
Julgamos, todavia, que o reconhecimento da verdade daquele princípio não implica a minimização e até a destruição da obra literária como estrutura artística relativamente autónoma, passando-se do extremo representado pela "falácia objectivista" denunicada por Earl Miner para o extremo da "falácia cognitivista" advogada pelo mesmo autor (...).
Apesar de nunca me ter debruçado sobre este problema na arte em geral, penso que o afirmado por Aguiar e Silva em relação à literatura também poderá ser válido para as outras artes. Talvez por isso, relativamente a este tipo de arte contemporânea, mais as suas manias da "performance", tenho muito dificuldade de considerar isto como arte. Se calhar estou errado, mas não basta alguém considerar-se como artista para que eu considere que o que ele faz é obra de arte (mesmo sabendo eu dos conceito e conveções, etc. que subjazem a esse tipo de arte).
Hoje o Jornal de Notícias, na sua secção Cultura, volta a falar no assunto. Em caixa, Paulo Cunha e Silva, director do Instituto das Artes, diz o seguinte:
A obra de arte deixou de ter legitimidade por si - é o artista que lhe confere esse estatuto. Além de vir complementar o anedotário da arte contemporânea, a sucessão deste tipo de equívocos acabou por introduzir uma questão muito interessante, a do conflito entre as obras de arte e o próprio Mundo. O senso comum orquestra a perplexidade e a resistência para rejeitar determinadas criações. A ideia de que não passam de lixo - ou que poderiam ter sido concebidas por qualquer um - acaba por dissolver a aura de objecto artístico e restituí-lo para o local onde ele deve estar. A realidade. O lixo. Em última instância, esse cidadão delimita as fronteiras - que, entretanto, se terão diluído - do conceito de museu enquanto caixote do luxo e não caixote do lixo. O problema é que essas obras de arte não foram concebidas por esse anónimo, que não tem estatuto de legitimação. Esse esforço só pode ser exercido pelo artista, designação conferida, nomeadamente, pelo crítico de arte e pela própria sociedade. No final, a questão deixou de ser "o que é uma obra de arte?", mas, antes, "o que é um artista?".
Tal como na literatura, não acredito numa definição essencialística da obra de arte em geral, mas também não acredito no extremo oposto.
Vítor Manuel Aguiar e Silva (in Teoria da Literatura, Almedina, 8.ª ed., p. 33), depois de considerar que:
(...) a obra literária só adquire efectiva existência como obra literária, como objecto estético, quando é lida e interpretada por um leitor, em conformidade com determinados conhecimentos, determinadas convenções e práticas institucionais.
Diz o seguinte na p. 34:
Julgamos, todavia, que o reconhecimento da verdade daquele princípio não implica a minimização e até a destruição da obra literária como estrutura artística relativamente autónoma, passando-se do extremo representado pela "falácia objectivista" denunicada por Earl Miner para o extremo da "falácia cognitivista" advogada pelo mesmo autor (...).
Apesar de nunca me ter debruçado sobre este problema na arte em geral, penso que o afirmado por Aguiar e Silva em relação à literatura também poderá ser válido para as outras artes. Talvez por isso, relativamente a este tipo de arte contemporânea, mais as suas manias da "performance", tenho muito dificuldade de considerar isto como arte. Se calhar estou errado, mas não basta alguém considerar-se como artista para que eu considere que o que ele faz é obra de arte (mesmo sabendo eu dos conceito e conveções, etc. que subjazem a esse tipo de arte).
Comentários
O Velho da Montanha.