Fora de época, não?
A primeira nota dirijo-a para o facto da notícia referir que entre os manifestantes estava gente ligada à cultura, enfim os chamados intelectuais, como se isso fosse uma caução de garantia de qualidade (isto é, neste caso, de que os manifestantes tinham razão). Ora, o facto de se ser intelectual, não quer dizer que se seja muito esclarecido em política. É bom lembrar que a tirania soviética foi entusiasticamente apoiada por intelectuais, bem como, em Itália, o fascismo teve o apoio de muitos intelectuais italianos.
Mas quanta a essa mania dos intelectuais serem uma espécie de guias, de faróis da humanidade, venho aqui recordar uma entrevista (p. 19-20) já antiga (1993) de Chomsky - de quem não sou particular admirador, quer do seu trabalho linguístico (não é a minha linguística) quer das suas posições políticas - mas, todavia, interessante nesta questão da relação dos intelectuais com a política e a sociedade.
Les intellectuels ont un problème: ils doivent justifier leur existence. Or, si vous dites les choses en langage simple ... . En fait, on ne comprend pas grand-chose; il y a peu de choses concernant le monde qui sont comprises. La plupart des choses qui sont comprises, à part peut-être certains secteurs de la physique, peuvent être exprimées à l'aide de mots très simples et en des phrases très courtes. Mais si vous faites cela, vous ne devenez pas célèbre, vous n'obtenez pas d'emploi, les gens ne révèrent pas vos écrits etc.. Il y a là un défi pour les intellectuels. Il s'agira de prendre ce qui est plutôt simple et de le faire passer pour très compliqué et très profond. Les groupes d'intellectuels interagissent comme cela. Ils se parlent entre eux, et le reste du monde est supposé les admirer, les traiter avec respect et ainsi de suite. Mais traduisez en langage simple ce qu'ils disent et vous trouverez bien souvent ou bien rien du tout, ou bien des truismes, ou bien des absurdités.
(...)Mais cela est dû, en partie, au manque de critique de l'intérieur et à l'immunité à la critique de l'extérieur. Cela est tout particulièrement frappant à Paris. Paris est un cas très spécial. Un des problèmes qu'il y a là-bas est que les intellectuels sont pris beaucoup trop au sérieux. De telle sorte que si Jacques Lacan reniflait, il y avait un article en première page du Monde.
(...)
Tout le monde déplore qu'aux États-unis on ne prenne pas les intellectuels au sérieux. Je crois que c'est une des meilleures choses qu'il y ait aux États-unis. Pour prendre un exemple concret: dans les années 60, les gens signaient des pétitions contre la guerre au Vietnam et il y avait des pétitions que, disons Sartre et moi-même avions signées. En France, cela faisait la première page; ici, on n'y portait aucune attention. Et avec raison. Qui ça intéresse? Que des intellectuels signent une pétition, personne ne s'en soucie.
Chomsky não diz muitas coisas certas (mesmo em linguística), mas, nesta entrevista, põe os intelectuais no seu devido lugar. É que a opinião de um intelectual não é melhor nem pior do que a minha só pelo facto dele ser um intelectual...
Em segundo lugar, então 370 personalidades do país convocam a manifestação e apenas aparecem 1500 pessoas? Estas personalidades não parecem ter muita credibilidade (política) entre a população.
E estas personalidades queriam entregar o país a guerra civil, quando o povo iraquiano disse, no domingo passado e de forma eloquente, que não queriam mais terrorismo?
Enfim, como eu sempre disse, os intelectuais não costumam primar pelo bom senso. Vêem o mundo através das teorias que constroem, não pela análise da realidade.
Comentários
CMF
Em primeiro lugar, nesse aspecto, Chomsky não se distingue de Saussure que também procurava tornar a linguística uma ciência. Mas será que a linguística é uma ciência? Tenho dúvidas, mas isso nem sequer é importante.
O problema de Chomsky é tratar-se, em primeiro lugar, de uma linguística de frase, isto é, o nível máximo de análise pára na frase (problema também de Sassure, Benveniste, Bloomfield, etc.). Ora, eu ligo-me muito mais à linguística de texto (desenvolvida sobretudo a partir dos anos 70 por holandeses e alemães), passando a unidade mínima de análise a ser o texto (cujo conceito também evoluiu bastante).
Por outro lado, mesmo dentro da linguística clássica, tenho por ponto de referência M.A.K. Halliday cuja obra "An Introduction to Functional Grammar" é bem mais interessante (e da qual tiro mais proveito) do que os vários livros de Chomsky (de quem tenho dois dos livros mais importantes). A uma linguística de sistema (caso de Saussure ou Chomsky) opõe-se-lhe uma linguística de uso do sistema. Mais, isso dava pano para mangas, provavelmente, voltarei a estes assunto no meu outro blog.
Vou voltar!