Traduções
De vez em quando falo neste blog acerca da tradução que se vai fazendo em Portugal. É natural que me interesse pelo assunto, afinal, é a minha profissão. Mas hoje, vou transcrever uma entrada interessante sobre tradução publicada no blogue A oeste nada de novo:
POST SCRIPTUM SOBRE A TRADUÇÃO DE AS ORIGENS DO MAL DE GEORGES MINOISTranscrevo este texto porque não podia deixar de estar mais de acordo com a conclusão do mesmo. Aliás, já num texto anterior, intitulado Legendagem eu tinha referido este tipo de problemas de falta de cultura geral. E, também, já por várias vezes, referi que os nomes próprios são uma das principais vítimas desta falta de cultura geral e de preguiça mental durante o processo de tradução. Para traduzir não basta saber línguas. Afinal, e isso já foi dito por muita gente, um tradutor é um mediador cultural entre duas culturas.
A tradução de As Origens do Mal foi entregue a Carlos Correia Monteiro de Oliveira, o que é uma boa notícia, pois o tradutor das obras precedentes (Serafim Ferreira) foi avançando paulatinamente até alcançar o nível do assassinato na tradução de História do Ateísmo, em que frequentemente pôs a edição portuguesa a dizer precisamente o contrário do original francês.
Se Carlos Oliveira comete os mesmos erros, tal não é evidente (o que, paradoxalmente, será um demérito face a Serafim Ferreira, com quem conseguíamos muitas vezes "reconstruir" o sentido original...), mas numa coisa ambos se irmanam: no critério (ou falta dele) quanto à tradução (ou não) de alguns títulos de obras e ao aportuguesamento (ou não) dos nomes de certos autores e personagens históricas ou mitológicas. É assim que surgem pérolas como a deusa grega «Gaïa», a seita dos «caïnitas» e o romancista «Dostoïevski», teólogos gregos como «Numérius d'Apamée», «Marcion du Pont» (ambos do séc. II) ou «Méthode d'Olympe» (séc. IV), o famoso escocês «Jean Duns Scot» (sécs. XIII–XIV) e muitos outros «Jeans» holandeses, alemães e doutras paragens, o «Livre des jubilés» (composto por uma seita judaica entre 135 a. C. e 105 a. C. e encontrado em Qumran) ou as obras de Ireneu (séc. II) e do alemão Martinho Lutero (séc. XVI), todas com títulos em francês — e ainda o meu preferido, o rei «Jacques I de Inglaterra». Ou, reverso da medalha, um certo «Teodoro» Roosevelt...
Sejamos claros: deixar em francês títulos de obras não originalmente publicadas nessa língua ou nomes de personagens históricas não francófonas que por tradição são conhecidos na sua forma aportuguesada (ou afrancesada, no caso dos países francófonos, daí a opção de G. Minois) denota, antes de mais, ignorância e falta de cultura geral. O tradutor, simplesmente, não faz a mínima ideia de quem tais personagens foram — nem procurou saber.
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